MÉDIUM ZÉLIO O FUNDADOR DA UMBANDA NO BRASIL |
No
final de 1908, Zélio Fernandino de Moraes, um jovem rapaz com 17 anos
de idade, que preparava-se para ingressar na carreira militar na
Marinha, começou a sofrer estranhos "ataques". Sua família, conhecida e
tradicional na cidade de Neves, estado do Rio de Janeiro, foi pega de
surpresa pelos acontecimentos.
Esses
"ataques" do rapaz, eram caracterizados por posturas de um velho,
falando coisas sem sentido e desconexas, como se fosse outra pessoa que
havia vivido em outra época. Muitas vezes assumia uma forma que parecia a
de um felino lépido e desembaraçado que mostrava conhecer muitas coisas
da natureza.
Após
examiná-lo durante vários dias, o médico da família recomendou que
seria melhor encaminhá-lo a um padre, pois o médico (que era tio do
paciente), dizia que a loucura do rapaz não se enquadrava em nada que
ele havia conhecido. Acreditava mais, era que o menino estava
endemoniado.
Alguém
da família sugeriu que "isso era coisa de espiritismo" e que era melhor
levá-lo à Federação Espírita de Niterói, presidida na época por José de
Souza. No dia 15 de novembro, o jovem Zélio foi convidado a participar
da sessão, tomando um lugar à mesa.
Tomado
por uma força estranha e alheia a sua vontade, e contrariando as normas
que impediam o afastamento de qualquer dos componentes da mesa, Zélio
levantou-se e disse: "Aqui está faltando uma flor". Saiu da sala indo ao
jardim e voltando após com uma flor, que colocou no centro da mesa.
Essa atitude causou um enorme tumulto entre os presentes. Restabelecidos
os trabalhos, manifestaram-se nos médiuns kardecistas espíritos que se
diziam pretos escravos e índios.
O
diretor dos trabalhos achou tudo aquilo um absurdo e advertiu-os com
aspereza, citando o "seu atraso espiritual" e convidando-os a se
retirarem.
Após esse incidente, novamente uma força estranha tomou o jovem Zélio e através dele falou: _"Porque
repelem a presença desses espíritos, se nem sequer se dignaram a ouvir
suas mensagens. Será por causa de suas origens sociais e da cor ?"
Seguiu-se
um diálogo acalorado, e os responsáveis pela sessão procuravam
doutrinar e afastar o espírito desconhecido, que desenvolvia uma
argumentação segura.
Um
médium vidente perguntou: _"Por quê o irmão fala nestes termos,
pretendendo que a direção aceite a manifestação de espíritos que, pelo
grau de cultura que tiveram, quando encarnados, são claramente
atrasados? Por quê fala deste modo, se estou vendo que me dirijo neste
momento a um jesuíta e a sua veste branca reflete uma aura de luz? E
qual o seu nome irmão?
_"Se querem um nome, que seja este: sou o Caboclo das Sete Encruzilhadas, porque para mim, não haverá caminhos fechados."
_"O
que você vê em mim, são restos de uma existência anterior. Fui padre e o
meu nome era Gabriel Malagrida. Acusado de bruxaria fui sacrificado na
fogueira da Inquisição em Lisboa, no ano de 1761. Mas em minha última
existência física, Deus concedeu-me o privilégio de nascer como caboclo
brasileiro."
Anunciou também o tipo de missão que trazia do Astral:
_"Se
julgam atrasados os espíritos de pretos e índios, devo dizer que amanhã
(16 de novembro) estarei na casa de meu aparelho, às 20 horas, para dar
início a um culto em que estes irmãos poderão dar suas mensagens e,
assim, cumprir missão que o Plano Espiritual lhes confiou. Será uma
religião que falará aos humildes, simbolizando a igualdade que deve
existir entre todos os irmãos, encarnados e desencarnados.”
O
vidente retrucou: _"Julga o irmão que alguém irá assistir a seu culto" ?
perguntou com ironia. E o espírito já identificado disse:
_"Cada colina de Niterói atuará como porta-voz, anunciando o culto que amanhã iniciarei".
Para finalizar o caboclo completou:
_"Deus,
em sua infinita Bondade, estabeleceu na morte, o grande nivelador
universal, rico ou pobre, poderoso ou humilde, todos se tornariam iguais
na morte, mas vocês, homens preconceituosos, não contentes em
estabelecer diferenças entre os vivos, procuram levar essas mesmas
diferenças até mesmo além da barreira da morte. Porque não podem nos
visitar esses humildes trabalhadores do espaço, se apesar de não haverem
sido pessoas socialmente importantes na Terra, também trazem
importantes mensagens do além?"
No
dia seguinte, na casa da família Moraes, na rua Floriano Peixoto,
número 30, ao se aproximar a hora marcada, 20:00 h, lá já estavam
reunidos os membros da Federação Espírita para comprovarem a veracidade
do que fora declarado na véspera; estavam os parentes mais próximos,
amigos, vizinhos e, do lado de fora, uma multidão de desconhecidos.
Às
20:00 h, manifestou-se o Caboclo das Sete Encruzilhadas. Declarou que
naquele momento se iniciava um novo culto, em que os espíritos de velhos
africanos que haviam servido como escravos e que, desencarnados, não
encontravam campo de atuação nos remanescentes das seitas negras, já
deturpadas e dirigidas em sua totalidade para os trabalhos de
feitiçaria; e os índios nativos de nossa terra, poderiam trabalhar em
benefício de seus irmãos encarnados, qualquer que fosse a cor, a raça, o
credo e a condição social.
A
prática da caridade, no sentido do amor fraterno, seria a
característica principal deste culto, que teria por base o Evangelho de
Jesus.
O
Caboclo estabeleceu as normas em que se processaria o culto. Sessões,
assim seriam chamados os períodos de trabalho espiritual, diárias, das
20:00 às 22:00 h; os participantes estariam uniformizados de branco e o
atendimento seria gratuito. Deu, também, o nome do Movimento Religioso
que se iniciava: UMBANDA – Manifestação do Espírito para a Caridade.
A
Casa de trabalhos espirituais que ora se fundava, recebeu o nome de
Nossa Senhora da Piedade, porque assim como Maria acolheu o filho nos
braços, também seriam acolhidos como filhos todos os que necessitassem
de ajuda ou de conforto.
Ditadas
as bases do culto, após responder em latim e alemão às perguntas dos
sacerdotes ali presentes, o Caboclo das Sete Encruzilhadas passou a
parte prática dos trabalhos.
O
caboclo foi atender um paralítico, fazendo este ficar curado. Passou a
atender outras pessoas que haviam neste local, praticando suas curas.
Nesse
mesmo dia incorporou um preto velho chamado Pai Antônio, aquele que,
com fala mansa, foi confundido como loucura de seu aparelho e com
palavras de muita sabedoria e humildade e com timidez aparente,
recusava-se a sentar-se junto com os presentes à mesa dizendo as
seguintes palavras:
"_ Nêgo num senta não meu sinhô, nêgo fica aqui mesmo. Isso é coisa de sinhô branco e nêgo deve arrespeitá."
Após insistência dos presentes fala:
"_Num carece preocupá não. Nêgo fica no toco que é lugá di nego."
Assim,
continuou dizendo outras palavras representando a sua humildade. Uma
pessoa na reunião pergunta se ele sentia falta de alguma coisa que tinha
deixado na terra e ele responde:
"_Minha caximba. Nêgo qué o pito que deixou no toco. Manda mureque busca."
Tal
afirmativa deixou os presentes perplexos, os quais estavam presenciando
a solicitação do primeiro elemento de trabalho para esta religião. Foi
Pai Antonio também a primeira entidade a solicitar uma guia, até hoje
usadas pelos membros da Tenda e carinhosamente chamada de "Guia de Pai
Antonio".
No
dia seguinte, verdadeira romaria formou-se na rua Floriano Peixoto.
Enfermos, cegos etc. vinham em busca de cura e ali a encontravam, em
nome de Jesus. Médiuns, cuja manifestação mediúnica fora considerada
loucura, deixaram os sanatórios e deram provas de suas qualidades
excepcionais.
A
partir daí, o Caboclo das Sete Encruzilhadas começou a trabalhar
incessantemente para o esclarecimento, difusão e sedimentação da
religião de Umbanda. Além de Pai Antônio, tinha como auxiliar o Caboclo
orixá Malé, entidade com grande experiência no desmanche de trabalhos de
baixa magia.
Em
1918, o Caboclo das Sete Encruzilhadas recebeu ordens do Astral
Superior para fundar sete tendas para a propagação da Umbanda. As
agremiações ganharam os seguintes nomes: Tenda Espírita Nossa Senhora da
Guia; Tenda Espírita Nossa Senhora da Conceição; Tenda Espírita Santa
Bárbara; Tenda Espírita São Pedro; Tenda Espírita Oxalá, Tenda Espírita
São Jorge; e Tenda Espírita São Gerônimo. Enquanto Zélio estava encarnado, foram fundadas mais de 10.000 tendas a partir das mencionadas.
UMBANDA: 104 ANOS (1908 - 2012)
INTRODUÇÃO
Escrever sobre Benjamin Gonçalves Figueiredo não é apenas falar do homem e do médium, porque sua vida se mistura com a mensagem e com a obra de seu mentor espiritual, um dos mais importantes dirigentes espirituais da Umbanda: o magnífico Caboclo Mirim. Ambos serão para sempre um exemplo edificante de amor ao próximo e de luta pela dignidade do culto umbandista.
Em um momento histórico-cultural difícil para a Umbanda, Benjamin Figuei redo foi um dos principais expoentes no movimento pela evolução do culto e pelo reconhecimento das casas umbandistas junto às autoridades de seu tempo, estando lado a lado de alguns dos incansáveis guerreiros dos primeiros anos da nossa querida Umbanda, tais como Zélio Fernandino de Moraes, Domingos dos Santos, João Carneiro de Almeida, José Álvares Pessoa, Manoel Nogueira Aranha, João de Freitas, Cavalcanti Bandeira, Cícero Bernardino de Melo, Narciso Cavalcanti, Félix Nascente Pinto, Jerônimo de Souza, Henrique Landi Júnior, Matta e Silva, Tancredo da Silva Pinto, Átilla Nunes (pai), Omolubá, Flavio da Guiné, dentre outros.
INTRODUÇÃO
Escrever sobre Benjamin Gonçalves Figueiredo não é apenas falar do homem e do médium, porque sua vida se mistura com a mensagem e com a obra de seu mentor espiritual, um dos mais importantes dirigentes espirituais da Umbanda: o magnífico Caboclo Mirim. Ambos serão para sempre um exemplo edificante de amor ao próximo e de luta pela dignidade do culto umbandista.
Em um momento histórico-cultural difícil para a Umbanda, Benjamin Figuei redo foi um dos principais expoentes no movimento pela evolução do culto e pelo reconhecimento das casas umbandistas junto às autoridades de seu tempo, estando lado a lado de alguns dos incansáveis guerreiros dos primeiros anos da nossa querida Umbanda, tais como Zélio Fernandino de Moraes, Domingos dos Santos, João Carneiro de Almeida, José Álvares Pessoa, Manoel Nogueira Aranha, João de Freitas, Cavalcanti Bandeira, Cícero Bernardino de Melo, Narciso Cavalcanti, Félix Nascente Pinto, Jerônimo de Souza, Henrique Landi Júnior, Matta e Silva, Tancredo da Silva Pinto, Átilla Nunes (pai), Omolubá, Flavio da Guiné, dentre outros.
Por toda uma vida voltada à unificação dos umbandistas, Benjamin Gonçalves Figueiredo deixou registrada em nossa memória as lembranças do incansável líder, do médium admirável de Caboclo Mirim e de Pai Roberto e do homem cuja integridade e ideais em muito superaram os seus dias, nos trazendo até os dias de hoje os ecos de uma bela mensagem de fé e de determinação em tirar a Umbanda da marginalidade a qual esteve relegada pela sociedade brasileira até meados do século passado.
A ANUNCIAÇÃO DA UMBANDA
Há cerca de 20 anos após a proclamação da República, a sociedade brasileira vivia profundas transformações, ainda em busca de sua personalidade, de sua “brasilidade”. No mundo das artes, por exemplo, um grupo de artistas revolucionava a estética e a linguagem na Semana de Arte Moderna de 1922. Esse sentimento nacionalista viria também a se manifestar na política, com a ascensão de Getulio Vargas ao poder, já na década de 1930. Era o fim da hegemonia da elite agrária e a implantação do Estado Novo.
A característica mestiça da população brasileira passava a ser valorizada, tida como forma de união da nação. Por essa visão, os vários grupos raciais ganhavam igual importância na formação da civilização brasileira. Esta ideologia ajudou na crença de que o preconceito racial não existia no Brasil. Gilberto Freyre, em seu livro "Casa Grande e Senzala" (1933), foi um dos intelectuais que deram suporte a tal tese.
Até o samba, manifestação cultural oriunda da cultura negra brasileira, era redescoberto e reformatado, levado a um universo mais amplo: brilhava a estrela de Carmem Miranda!
E dentro deste contexto nacional, um fato marcante, para aqueles que se
propõe a estudar as origens da Umbanda, veio a consolidar-se como o
marco inicial da religião: a famosa manifestação do Caboclo das Sete
Encruzilhadas em 1908, através do seu médium Zélio Fernandino de Moraes
(1891-1975), na cidade de Niterói, então capital do antigo estado do
Rio de Janeiro. A data, 15 de novembro, é a mesma da comemoração da
proclamação da República brasileira. Coincidência?
Diante de uma respeitada e organizada Federação Espírita Brasileira, Caboclo das Sete Encruzilhadas pôde deixar registrada a definição do novo movimento religioso: "Uma manifestação do espírito para a caridade”. Caridade, a principal lei da Umbanda, religião do amor fraterno em benefício dos irmãos encarnados, qualquer que fosse a cor, a raça, o credo e a condição social.
Sabe-se que aquela não foi a primeira manifestação mediúnica de um espírito com perfil de um índio brasileiro, uma vez que desde o final do século XIX há registro da presença destes em pequenos terreiros, espalhados à margem da sociedade daqueles dias, as ditas “macumbas cariocas”. Mas o advento do Caboclo das Sete Encruzilhadas foi realmente especial por diversos aspectos. No início do século XX, “macumba” podia facilmente definir toda e qualquer relação mediúnica (geralmente promíscua) de curandeiros, pais-de-santo, feiticeiros, c harlatões, e todos aqueles que se dispunham a intervir junto às forças invisíveis do além apenas em troca de dinheiro e poder, como bem descreve Paulo Barreto em 1904, sob o pseudônimo de “João do Rio”, no livro “As Religiões no Rio”:
“Vivemos na dependência do Feitiço, dessa caterva de negros e negras de babaloxás e yauô, somos nós que lhes asseguramos a existência, com o carinho de um negociante por uma amante atriz. O Feitiço é o nosso vício, o nosso gozo, a degeneração. Exige, damoslhe; explora, deixamo-nos explorar e, seja ele maitre-chanteur, assassino, larápio, fica sempre impune e forte pela vida que lhe empresta o nosso dinheiro.”
Daí percebe-se a grandeza da missão do Caboclo das Sete Encruzilhadas como mensageiro das diretrizes da mais altas esferas da espiritualidade. Sua presença e sua mensagem eram muito claras: uma nova legião de entidades iluminadas trabalharia pe la elevação moral e espiritual do nosso povo, sob a inspiração de Cristo-Oxalá. Era o nascimento da Umbanda!
Desta forma entendemos porque, em 12 de março de 1920, outro jovem médium viria a ser o veículo de mais um iluminado Mestre, que também se utilizando da roupagem fluídica de um índio brasileiro, veio ratificar a mensagem de humildade e caridade da Umbanda.
Vinha ensinar a prática da mediunidade em sintonia e respeito à natureza e ao livre-arbítrio do praticante, na plenitude da “Escola da Vida”.
Assim, Caboclo Mirim se manifestava pela primeira vez naquele que seria seu companheiro de uma vida: Benjamin Gonçalves Figueiredo (26/12/1902 - 03/12/1986).
A TENDA ESPÍRITA MIRIM EM 1924
Benjamin Gonçalves Figueiredo, então com dezessete anos, participava com sua família de sessões espíritas (kardecistas) até que, em março de 1920, em uma dessas reuniões, Caboclo Mirim incorporou o jovem médium e anunciou que aquela seria a última sessão de Kardec realizada por aquela família e que as próximas passariam a ser de Umbanda, religião apresentada apenas há pouco mais de dez anos.
A partir de então, toda a família Figueiredo viu-se envolvida na formação daquele que seria um dos mais importantes núcleos umbandistas do Brasil. Aos 13 dias do mês de março do ano de 1924 considerou-se fundada a Tenda Espírita Mirim. Desde o início Caboclo Mirim advertiu que aquela seria uma Organização única no gênero em todo o Brasil, cujo método seria adotado por outras Tendas, até mesmo em outros Estados da Federação.
De fato, o ritual da Tenda Mirim sempre se destacou no meio umbandista por trazer influencias de correntes filosóficas que vão desde o Ocultismo e a Teosofia ao Espiritismo de Kardec. Caboclo Mirim aboliu do seu culto diversos elementos que estavam intimamente li gados à noção de que se tinha das “macumbas” e feitiçarias reinantes naqueles tempos, bem como alguns outros também relacionados ao culto católico e à cultura africana, em especial.
Ainda como parte da ruptura com outras religiões, nos terreiros orientados por Caboclo Mirim não se encontravam altares com as imagens católicas, apenas a de Jesus Cristo situado acima da altura da cabeça dos médiuns, onde se lia a inscrição “O Médium Supremo”. Os atabaques foram trocados por enormes tambores (tocados sentados), toalhas-de-guarda e as vestes rendadas coloridas, típicas da Bahia, deram lugar aos brancos uniformes e calçados, sempre sóbrios, como a lembrar a seus médiuns que todos eram apenas operários da fé, ou melhor, “Soldados de Oxalá”, como na letra de um belo hino da Tenda Mirim. Nenhum ornamento, nem guias, colares ou qualquer tipo de ostentação pessoal era aceita. Antes da abertura dos trabalhos, era até difícil ao visitante reconhecer os dirigentes dentre os demais médiuns da Casa.
Foi um primeiro passo em busca de uma identidade própria para a Umbanda, buscando-se dignificar o culto e seus participantes, tendo como base a organização e a disciplina do conjunto do corpo mediúnico da casa umbandista. Percebe-se ainda a nítida influência do movimento positivista daqueles tempos, através de uma certa rigidez hierárquica e disciplinar no terreiro, o que aliás, atraiu muitos médiuns militares para as fileiras das casas sob a orientação de Benjamin Gonçalves Figueiredo.
Caboclo Mirim introduziu tamb ém o conceito de graduação aos seus médiuns em desenvolvimento, com uma classificação própria para cada um nos trabalhos de atendimento público. Foi, talvez, a primeira Escola de Formação Iniciática Umbandista!
O novo adepto da religião iniciava seu desenvolvimento mediúnico na base da pirâmide hierárquica do terreiro, e ia ascendendo nela conforme em seu próprio ritmo, levando-se em conta a seriedade e a dedicação do neófito, e sempre de acordo com a intensidade e a qualidade com que seus próprios Guias trabalhavam junto ao médium.
Com isso, durante seu desenvolvimento, o médium exercitaria várias funções dentro dos trabalhos de caridade. A nomenclatura dos sete graus foi baseada na terminologia da língua Nheêngatú, da antiga raça dos índios Tupy. Assim ficaram classificados:
Benjamin Gonçalves Figueiredo, então com dezessete anos, participava com sua família de sessões espíritas (kardecistas) até que, em março de 1920, em uma dessas reuniões, Caboclo Mirim incorporou o jovem médium e anunciou que aquela seria a última sessão de Kardec realizada por aquela família e que as próximas passariam a ser de Umbanda, religião apresentada apenas há pouco mais de dez anos.
A partir de então, toda a família Figueiredo viu-se envolvida na formação daquele que seria um dos mais importantes núcleos umbandistas do Brasil. Aos 13 dias do mês de março do ano de 1924 considerou-se fundada a Tenda Espírita Mirim. Desde o início Caboclo Mirim advertiu que aquela seria uma Organização única no gênero em todo o Brasil, cujo método seria adotado por outras Tendas, até mesmo em outros Estados da Federação.
De fato, o ritual da Tenda Mirim sempre se destacou no meio umbandista por trazer influencias de correntes filosóficas que vão desde o Ocultismo e a Teosofia ao Espiritismo de Kardec. Caboclo Mirim aboliu do seu culto diversos elementos que estavam intimamente li gados à noção de que se tinha das “macumbas” e feitiçarias reinantes naqueles tempos, bem como alguns outros também relacionados ao culto católico e à cultura africana, em especial.
Ainda como parte da ruptura com outras religiões, nos terreiros orientados por Caboclo Mirim não se encontravam altares com as imagens católicas, apenas a de Jesus Cristo situado acima da altura da cabeça dos médiuns, onde se lia a inscrição “O Médium Supremo”. Os atabaques foram trocados por enormes tambores (tocados sentados), toalhas-de-guarda e as vestes rendadas coloridas, típicas da Bahia, deram lugar aos brancos uniformes e calçados, sempre sóbrios, como a lembrar a seus médiuns que todos eram apenas operários da fé, ou melhor, “Soldados de Oxalá”, como na letra de um belo hino da Tenda Mirim. Nenhum ornamento, nem guias, colares ou qualquer tipo de ostentação pessoal era aceita. Antes da abertura dos trabalhos, era até difícil ao visitante reconhecer os dirigentes dentre os demais médiuns da Casa.
Foi um primeiro passo em busca de uma identidade própria para a Umbanda, buscando-se dignificar o culto e seus participantes, tendo como base a organização e a disciplina do conjunto do corpo mediúnico da casa umbandista. Percebe-se ainda a nítida influência do movimento positivista daqueles tempos, através de uma certa rigidez hierárquica e disciplinar no terreiro, o que aliás, atraiu muitos médiuns militares para as fileiras das casas sob a orientação de Benjamin Gonçalves Figueiredo.
Caboclo Mirim introduziu tamb ém o conceito de graduação aos seus médiuns em desenvolvimento, com uma classificação própria para cada um nos trabalhos de atendimento público. Foi, talvez, a primeira Escola de Formação Iniciática Umbandista!
O novo adepto da religião iniciava seu desenvolvimento mediúnico na base da pirâmide hierárquica do terreiro, e ia ascendendo nela conforme em seu próprio ritmo, levando-se em conta a seriedade e a dedicação do neófito, e sempre de acordo com a intensidade e a qualidade com que seus próprios Guias trabalhavam junto ao médium.
Com isso, durante seu desenvolvimento, o médium exercitaria várias funções dentro dos trabalhos de caridade. A nomenclatura dos sete graus foi baseada na terminologia da língua Nheêngatú, da antiga raça dos índios Tupy. Assim ficaram classificados:
· 1º Grau: Bojámirins - Entidades dos médiuns Iniciantes (I)
· 2º Grau: Bojás - Entidades dos médiuns de Banco (B)
· 3º Grau: Bojáguassús - Entidades dos médiuns de Terreiro (T)
· 4º Grau: Abarémirins - Entidades dos Sub-Chefes de Terreiros (SCT)
· 5º Grau: Abarés - Entidades dos Chefes de Terreiros (CT)
· 6º Grau: Abaréguassús - Entidades dos Sub Comandantes Chefes de Terreiros (SCCT)
· 7º Grau: Morubixabas – Entidades dos Comandantes Chefes de Terreiros (CCT)
· 2º Grau: Bojás - Entidades dos médiuns de Banco (B)
· 3º Grau: Bojáguassús - Entidades dos médiuns de Terreiro (T)
· 4º Grau: Abarémirins - Entidades dos Sub-Chefes de Terreiros (SCT)
· 5º Grau: Abarés - Entidades dos Chefes de Terreiros (CT)
· 6º Grau: Abaréguassús - Entidades dos Sub Comandantes Chefes de Terreiros (SCCT)
· 7º Grau: Morubixabas – Entidades dos Comandantes Chefes de Terreiros (CCT)
A liturgia
aplicada nos terreiros também introduzia novos conceitos à fé
umbandistas. Caboclo Mirim sintetizou o tradicional panteão africano em
algumas linhas de trabalho sob a égide de Tupã, o Senhor da criação
na cultura Tupi-Guarani. Os Orixás evocados nos trabalhos da Tenda
Mirim eram: Oxalá, Oxossi (e Jurema), Ogum, Iemanjá, Oxum, Nanã, Iansã
e Xangô. Sempre se evitando o sincretismo com os santos católicos,
principalmente nas curimbas cantadas.
As manifestações mediúnicas davam-se sempre através dos Caboclos, Pretos-Velhos e as Ibeijadas (crianças), e não havia sequer uma saudação aos Exus e Pomba-Giras, muito menos uma Gira ou sessão própria para o trabalho destes. Certamente uma atitude que visava ratificar a ruptura da Umbanda com as populares “macumbas”. Para muitos, Benjamin Figueiredo parecia ignorar completamente a existência do “Povo da Rua”, bem como a extensão e a importância dos trabalhos próprios dessa linha. Benjamin parecia ignorar, perante os olhares menos atentos...
Realmente, nos tempos de Benjamin Figueiredo, as casas ligadas à Tenda Mirim não faziam Giras próprias de Exu e Pomba-Gira. Mas sua participação sempre foi fundamental na corrente astral da Casa.
Com um olhar mais apurado observava-se a presença do “Povo da Rua” auxiliando desde o desenvolvimento dos médiuns iniciantes bem como trabalhando pesado no descarrego de médiuns e consulentes. Mas sempre de uma forma extremamente discreta, fosse junto aos Caboclos e Pretos-Velhos, fosse junto à parte do corpo mediúnico deno minados “médiuns de banco”. Essa categoria de médiuns tinha como principal característica operar sempre sentado e de forma receptiva (ou passiva), em contraponto aos médiuns de terreiro incorporados com seus Caboclos, que ministravam o passe no consulente, de forma ativa. Os médiuns de banco se doavam fornecendo ectoplasma e também auxiliando na dispersão de energias maléficas e/ou miasmas, bem como na condução de almas sofredoras ou espíritos trevosos (“exunizados”).
Este era o trabalho fundamental das sessões de caridade sob a orientação de Caboclo Mirim.
Daí percebe-se que só com a segurança dos sempre alertas Exus e Pomba-Giras, em total sintonia e cooperação com as demais entidades presentes, se alcançava o pleno êxito em cada sessão.
Além das sessões de caridade, outro evento importante sob a direção de Caboclo Mirim eram as magníficas Giras mensais. Em seu enorme terreiro (20 x 50 metros), inaugurado em 1942, cerca de 2000 (dois mil!) médiuns da Tenda Mirim, suas filiais e Casas co-irmãs, confraternizavam com seus Caboclos e Pretos-Velhos em uma só poderosa vibração de amor aos Orixás e à Umbanda.
A partir dos anos 50, com um trabalho já bem consolidado na sua matriz no Rio de Janeiro, Caboclo Mirim responsabilizou vários médiuns a levar as Tendas de Umbanda ao longo de todo território nacional. A primeira casa descendente da Tenda Mirim foi criada em 30/06/1951, como filial, em Queimados, cidade de Nova Iguaçu. Depois desta, novas casas foram abertas em Austin, Realengo, Colégio, Jacarepaguá, Itaboraí e Petrópoli s. A primeira casa descendente do Caboclo Mirim, aberta fora do Rio de Janeiro foi na cidade de Assaí, no Paraná.
Até 1970, já tinham sido abertas 32 casas sob a orientação de Caboclo Mirim.
A UMBANDA FORA DA MARGINALIDADE
Nos primeiros anos da Umbanda, ainda no início do século XX, a repressão ao dito baixo espiritismo era bastante intensa. A Maçonaria, a Umbanda, o Espiritismo de Kardec e principalmente os cultos afro-brasileiros eram reprimidos com vigor. Pior ainda durante o período da ditadura Vargas, quando a polícia agia violentamente, com a justificativa de que a macumba tinha ligações com a subversão, servindo até para dar cobertura a grupos comunistas, segundo relatos da época. Uma lei datada de 1934 colocou todos esses grupos sob a jurisdição do Departamento de Tóxicos e Mistificações da Polícia do Rio de Janeiro, na seção especial de Costumes e Diversões, que lidava com problemas relacionados com álcool, drogas, jogo ilegal e prostituição. Praticar a Umbanda era então uma atividade marginal! (perdurou com tal classificação até a reorganização do Departamento de Polícia do Rio, em 1964)
Essa mesma lei de 1934 gerou uma situação dúbia: se o registro na polícia permitia aos terreiros a prática legal, concretamente, servia para facilitar a ação das autoridades, aumentando a possibilidade de intimidação e extorsão. Registrados ou não, os umbandistas e demais praticantes de cultos afro-brasileiros ficavam expostos à severa perseguição policial do Rio. Não era difícil ver a polícia invadir e fechar terreiros, confiscando objetos rituais, e muitas vezes prendendo os participantes. Benjamin Figueiredo, Zélio Fernandino de Moraes e muitos outros foram presos diversas vezes nesse período.
Mas havia um “modelo” que vinha conquistando seu espaço na sociedade brasileira: A Federação E spírita Brasileira (FEB), fundada desde 1º de janeiro de 1884. Nos anos 30, esta já conseguira se firmar como legítima representante do Espiritismo no Brasil, unificando, fortalecendo e tornando coesas as Casas espíritas.
O simbolismo que carrega o vocábulo “federação”, como idéia de unidade nacional, servia ao discurso da Era Vargas, que naqueles tempos já via com bons olhos a religião espírita, como mais uma fonte de pacificação e, principalmente, controle das massas pela elite “branca” da sociedade.
Tentando se livrar do estigma marginal dos feiticeiros, iniciou-se um claro movimento por uma auto-identificação dos umbandistas com o Kardecismo e com o alto espiritismo. O próprio termo espírita foi usado para esconder nomes e para disfarçar os praticantes da Umbanda de sua ascendência afro-brasileira, quase como uma nova forma de sincretismo, tal qual a máscara católica que as religiões afro-brasileiras se utilizar am nos tempos do cativeiro. Daí a denominação de tantas Casas umbandistas tradicionais: Tenda Espírita Mirim, Tenda Espírita Fraternidade da Luz, Tenda Espírita Estrela Guia da Umbanda, etc..
Os números de São Paulo, apresentados pelo professor de Sociologia da Religião Lísias Nogueira Negrão (livro Entre a Cruz e a Encruzilhada. São Paulo: Edusp, 1996), são um ótimo exemplo: de 1929 a 1944 o número de centros espíritas kardecistas registrados em cartórios representava 94% do total de unidades religiosas registradas, contra apenas 6% das casas declaradas de Umbanda. Alguns anos depois, no período de 1953 a 1959 (após a descriminalização), este número já havia se invertido, com 68% de casas de Umbanda contra 31% de casas kardecistas.
O movimento umbandista ganhava corpo e estruturava-se a fim de obter o status de religião brasileira. O exemplo da FEB deve ter parecido a melhor opção para as lideranças umbandista d aqueles tempos. Criar uma federação para negociar com o Estado a regulamentação da Umbanda, e conseqüentemente o fim da repressão ao culto, inserindo assim a Umbanda na estrutura do Estado pela via institucional foi o caminho escolhido. Em 1939 fundou-se a Federação Espírita de Umbanda, atual União Espírita de Umbanda do Brasil. Zélio de Moraes, Benjamin Figueiredo, Tancredo Pinto e outros se uniram em torno de um só ideal: tirar a Umbanda da marginalidade, organizando-a como uma religião coerente e hegemônica e assim obtendo sua legitimação social.
Esse grupo realizou então o Primeiro Congresso Brasileiro do Espiritismo de Umb anda em 1941, onde essas lideranças apresentaram suas teses sobre a religião. A corrente predominante trazia à sociedade uma Umbanda original e evoluída que existiria desde o oriente, de onde teria se espalhado para a Lemúria (um lendário continente perdido), e daí para a África, onde teria degenerado para o feiticismo, forma que teria chegado ao Brasil pelos escravos negros. Assim, a influência africana na Umbanda não era negada, mas olhada como uma corrupção da tradição religiosa original, na sua fase anterior de evolução.
A defesa da nova definição do termo Umbanda, reflete bem o pensamento dos intelectuais da religião, unidos naquele primeiro congresso. Ali surgiu, pela primeira vez, a expressão AUM-BANDHÃ do Sânscrito aume bhanda, termos que foram traduzidos como "o limitado no ilimitado", "Princípio Divino, luz radiante, fonte de vida eterna, evolução constante". Tal tese, apresentada pela Tenda Espírita Mirim, é até hoje aceita por diversas correntes umbandistas.
Alguns estudiosos apontam nessa primeira tentativa de consolidação da Umbanda forte tendência de desafricanização e embranquecimento da Umbanda, uma vez que os demais líderes das religiões Afro-Brasileiras foram excluídos desse encontro histórico. Alegam também que a dita “lavagem branca” da origem da Umbanda pode ser encontrada em denominações comuns à época, como umbanda pura, umbanda limpa, umbanda branca e umbanda da linha branca no sentido de "magia branca". Termos que contrastavam com magia negra e linha negra, associados com o mal.
Mas a verdadeira luta de Zélio de Moraes, Benjamin Figueiredo e seus contemporâneos era pela descriminalização da prática da Umbanda, o que viria a ser o maior feito daquele Primeiro Congresso. Em 1944, essas mesmas lideranças umbandistas apresentam ao então Presidente
Getúlio Vargas um documento entitulado "O Culto da Umbanda em Face da Lei", conseguindo que o governo brasileiro aprovasse a descriminalização da nossa querida religião.
PAPAS & CODIFICAÇÕES
Apesar de uma grande vitória, a descriminalização da Umbanda não foi suficiente para manter unidas as lideranças do movimento, juntas até então pela legitimação da religião. Por volta de 1950, essas mesmas lideranças passaram a se entrincheirar em torno de seus pontos-de-vista pessoais, cada qual defendido com ardor e paixão, abrindo-se assim um enorme fosso dentre as diversas correntes umbandistas. Diversas Federações são fundadas no Brasil (só no RJ foram novas seis!).
As manifestações mediúnicas davam-se sempre através dos Caboclos, Pretos-Velhos e as Ibeijadas (crianças), e não havia sequer uma saudação aos Exus e Pomba-Giras, muito menos uma Gira ou sessão própria para o trabalho destes. Certamente uma atitude que visava ratificar a ruptura da Umbanda com as populares “macumbas”. Para muitos, Benjamin Figueiredo parecia ignorar completamente a existência do “Povo da Rua”, bem como a extensão e a importância dos trabalhos próprios dessa linha. Benjamin parecia ignorar, perante os olhares menos atentos...
Realmente, nos tempos de Benjamin Figueiredo, as casas ligadas à Tenda Mirim não faziam Giras próprias de Exu e Pomba-Gira. Mas sua participação sempre foi fundamental na corrente astral da Casa.
Com um olhar mais apurado observava-se a presença do “Povo da Rua” auxiliando desde o desenvolvimento dos médiuns iniciantes bem como trabalhando pesado no descarrego de médiuns e consulentes. Mas sempre de uma forma extremamente discreta, fosse junto aos Caboclos e Pretos-Velhos, fosse junto à parte do corpo mediúnico deno minados “médiuns de banco”. Essa categoria de médiuns tinha como principal característica operar sempre sentado e de forma receptiva (ou passiva), em contraponto aos médiuns de terreiro incorporados com seus Caboclos, que ministravam o passe no consulente, de forma ativa. Os médiuns de banco se doavam fornecendo ectoplasma e também auxiliando na dispersão de energias maléficas e/ou miasmas, bem como na condução de almas sofredoras ou espíritos trevosos (“exunizados”).
Este era o trabalho fundamental das sessões de caridade sob a orientação de Caboclo Mirim.
Daí percebe-se que só com a segurança dos sempre alertas Exus e Pomba-Giras, em total sintonia e cooperação com as demais entidades presentes, se alcançava o pleno êxito em cada sessão.
Além das sessões de caridade, outro evento importante sob a direção de Caboclo Mirim eram as magníficas Giras mensais. Em seu enorme terreiro (20 x 50 metros), inaugurado em 1942, cerca de 2000 (dois mil!) médiuns da Tenda Mirim, suas filiais e Casas co-irmãs, confraternizavam com seus Caboclos e Pretos-Velhos em uma só poderosa vibração de amor aos Orixás e à Umbanda.
A partir dos anos 50, com um trabalho já bem consolidado na sua matriz no Rio de Janeiro, Caboclo Mirim responsabilizou vários médiuns a levar as Tendas de Umbanda ao longo de todo território nacional. A primeira casa descendente da Tenda Mirim foi criada em 30/06/1951, como filial, em Queimados, cidade de Nova Iguaçu. Depois desta, novas casas foram abertas em Austin, Realengo, Colégio, Jacarepaguá, Itaboraí e Petrópoli s. A primeira casa descendente do Caboclo Mirim, aberta fora do Rio de Janeiro foi na cidade de Assaí, no Paraná.
Até 1970, já tinham sido abertas 32 casas sob a orientação de Caboclo Mirim.
A UMBANDA FORA DA MARGINALIDADE
Nos primeiros anos da Umbanda, ainda no início do século XX, a repressão ao dito baixo espiritismo era bastante intensa. A Maçonaria, a Umbanda, o Espiritismo de Kardec e principalmente os cultos afro-brasileiros eram reprimidos com vigor. Pior ainda durante o período da ditadura Vargas, quando a polícia agia violentamente, com a justificativa de que a macumba tinha ligações com a subversão, servindo até para dar cobertura a grupos comunistas, segundo relatos da época. Uma lei datada de 1934 colocou todos esses grupos sob a jurisdição do Departamento de Tóxicos e Mistificações da Polícia do Rio de Janeiro, na seção especial de Costumes e Diversões, que lidava com problemas relacionados com álcool, drogas, jogo ilegal e prostituição. Praticar a Umbanda era então uma atividade marginal! (perdurou com tal classificação até a reorganização do Departamento de Polícia do Rio, em 1964)
Essa mesma lei de 1934 gerou uma situação dúbia: se o registro na polícia permitia aos terreiros a prática legal, concretamente, servia para facilitar a ação das autoridades, aumentando a possibilidade de intimidação e extorsão. Registrados ou não, os umbandistas e demais praticantes de cultos afro-brasileiros ficavam expostos à severa perseguição policial do Rio. Não era difícil ver a polícia invadir e fechar terreiros, confiscando objetos rituais, e muitas vezes prendendo os participantes. Benjamin Figueiredo, Zélio Fernandino de Moraes e muitos outros foram presos diversas vezes nesse período.
Mas havia um “modelo” que vinha conquistando seu espaço na sociedade brasileira: A Federação E spírita Brasileira (FEB), fundada desde 1º de janeiro de 1884. Nos anos 30, esta já conseguira se firmar como legítima representante do Espiritismo no Brasil, unificando, fortalecendo e tornando coesas as Casas espíritas.
O simbolismo que carrega o vocábulo “federação”, como idéia de unidade nacional, servia ao discurso da Era Vargas, que naqueles tempos já via com bons olhos a religião espírita, como mais uma fonte de pacificação e, principalmente, controle das massas pela elite “branca” da sociedade.
Tentando se livrar do estigma marginal dos feiticeiros, iniciou-se um claro movimento por uma auto-identificação dos umbandistas com o Kardecismo e com o alto espiritismo. O próprio termo espírita foi usado para esconder nomes e para disfarçar os praticantes da Umbanda de sua ascendência afro-brasileira, quase como uma nova forma de sincretismo, tal qual a máscara católica que as religiões afro-brasileiras se utilizar am nos tempos do cativeiro. Daí a denominação de tantas Casas umbandistas tradicionais: Tenda Espírita Mirim, Tenda Espírita Fraternidade da Luz, Tenda Espírita Estrela Guia da Umbanda, etc..
Os números de São Paulo, apresentados pelo professor de Sociologia da Religião Lísias Nogueira Negrão (livro Entre a Cruz e a Encruzilhada. São Paulo: Edusp, 1996), são um ótimo exemplo: de 1929 a 1944 o número de centros espíritas kardecistas registrados em cartórios representava 94% do total de unidades religiosas registradas, contra apenas 6% das casas declaradas de Umbanda. Alguns anos depois, no período de 1953 a 1959 (após a descriminalização), este número já havia se invertido, com 68% de casas de Umbanda contra 31% de casas kardecistas.
O movimento umbandista ganhava corpo e estruturava-se a fim de obter o status de religião brasileira. O exemplo da FEB deve ter parecido a melhor opção para as lideranças umbandista d aqueles tempos. Criar uma federação para negociar com o Estado a regulamentação da Umbanda, e conseqüentemente o fim da repressão ao culto, inserindo assim a Umbanda na estrutura do Estado pela via institucional foi o caminho escolhido. Em 1939 fundou-se a Federação Espírita de Umbanda, atual União Espírita de Umbanda do Brasil. Zélio de Moraes, Benjamin Figueiredo, Tancredo Pinto e outros se uniram em torno de um só ideal: tirar a Umbanda da marginalidade, organizando-a como uma religião coerente e hegemônica e assim obtendo sua legitimação social.
Esse grupo realizou então o Primeiro Congresso Brasileiro do Espiritismo de Umb anda em 1941, onde essas lideranças apresentaram suas teses sobre a religião. A corrente predominante trazia à sociedade uma Umbanda original e evoluída que existiria desde o oriente, de onde teria se espalhado para a Lemúria (um lendário continente perdido), e daí para a África, onde teria degenerado para o feiticismo, forma que teria chegado ao Brasil pelos escravos negros. Assim, a influência africana na Umbanda não era negada, mas olhada como uma corrupção da tradição religiosa original, na sua fase anterior de evolução.
A defesa da nova definição do termo Umbanda, reflete bem o pensamento dos intelectuais da religião, unidos naquele primeiro congresso. Ali surgiu, pela primeira vez, a expressão AUM-BANDHÃ do Sânscrito aume bhanda, termos que foram traduzidos como "o limitado no ilimitado", "Princípio Divino, luz radiante, fonte de vida eterna, evolução constante". Tal tese, apresentada pela Tenda Espírita Mirim, é até hoje aceita por diversas correntes umbandistas.
Alguns estudiosos apontam nessa primeira tentativa de consolidação da Umbanda forte tendência de desafricanização e embranquecimento da Umbanda, uma vez que os demais líderes das religiões Afro-Brasileiras foram excluídos desse encontro histórico. Alegam também que a dita “lavagem branca” da origem da Umbanda pode ser encontrada em denominações comuns à época, como umbanda pura, umbanda limpa, umbanda branca e umbanda da linha branca no sentido de "magia branca". Termos que contrastavam com magia negra e linha negra, associados com o mal.
Mas a verdadeira luta de Zélio de Moraes, Benjamin Figueiredo e seus contemporâneos era pela descriminalização da prática da Umbanda, o que viria a ser o maior feito daquele Primeiro Congresso. Em 1944, essas mesmas lideranças umbandistas apresentam ao então Presidente
Getúlio Vargas um documento entitulado "O Culto da Umbanda em Face da Lei", conseguindo que o governo brasileiro aprovasse a descriminalização da nossa querida religião.
PAPAS & CODIFICAÇÕES
Apesar de uma grande vitória, a descriminalização da Umbanda não foi suficiente para manter unidas as lideranças do movimento, juntas até então pela legitimação da religião. Por volta de 1950, essas mesmas lideranças passaram a se entrincheirar em torno de seus pontos-de-vista pessoais, cada qual defendido com ardor e paixão, abrindo-se assim um enorme fosso dentre as diversas correntes umbandistas. Diversas Federações são fundadas no Brasil (só no RJ foram novas seis!).
Com o fim da perseguição das autoridades públicas à Umbanda, a religião passou por um rápido período de crescimento. Estavam abertas as portas da Umbanda aos mais diversos grupos que ainda se encontravam marginalizados, da mesma forma que um dia esta se encontrara. Todos os terreiros, das mais variadas “linhas”, incluíram em seus nomes a palavra Umbanda como forma de fugir à repressão policial. Nesse momento, cresce a corrente que defende a influência da cultura africana sobre o culto umbandista, e ganha destaque um dos seus principais expoentes: Tancredo da Silva Pinto (1904-1979), considerado o org anizador do culto Omolokô no Brasil. (foto à esquerda)
Ainda em 1950, Tancredo rompe com a Federação Espírita de Umbanda e funda a Confederação Espírita Umbandista do Brasil. Bastante atuante, viaja por quase todo o país, fundando Federações no Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Pernambuco, dentre outros, sempre com o objetivo de organizar e dar personalidade ao culto.
Inspirado pela tese do médico, etnólogo e professor Raimundo Nina Rodrigues (1862-1906), Tancredo defendeu com ardor sua visão da Umbanda, que via na pureza racial negra a legitimidade das práticas umbandistas. Tancredo Pinto lançou mais de 30 livros, e passaria 25 anos escrevendo uma coluna semanal no jornal “O Dia”, o que faria com que seus ideais tivessem grande ascendência sobre os setores mais humildes da Umbanda, chegando inclusive a receber o título de "Táta de Umbanda" ("Papa da Umbanda").
Como um dos maiores representantes da corrente umbandista que liderara o Primeiro Congresso de Umbanda, Benjamin Gonçalves Figueiredo, Presidente da Tenda Espírita Mirim (RJ), também sabia que aquele era o momento de levar a Umbanda pelo Brasil afora. Em 1951, a Tenda Mirim já iniciara seu processo de expansão, abrindo filiais em todo o estado do Rio.
Então, visando a
expansão em nível nacional, Benjamin Figueiredo, inspirado por seu
mentor Caboclo Mirim, convoca diversos dirigentes umbandistas a fim de
se unirem em torno de um ideal maior: a codificação da Umbanda.
Juntas essas Casas umbandistas fundam, em 03 de outubro de 1952, no Rio
de Janeiro, o Primado de Umbanda.
foto: Primado de Umbanda no Maracãnazinho – 1965 (Festa de IV Centenário da cidade do Rio)
Idealizado como
uma instituição federativa, o Primado visava o fortalecimento da
Umbanda e a maior união e entendimento entre seus responsáveis e
adeptos, procurando estabelecer, o quanto possível, maior uniformidade
nos trabalhos espirituais e práticas do ritual. Destacando-se pela
organização, disciplina e seriedade, e sob a condução de Benjamin,
eleito primeiro Primaz, o Primado de Umbanda cresceu rapidamente,
contando com dezenas de Casas filiadas em poucos anos.
O Primado ainda congregaria outros segmentos umbandistas e apoiaria a organização de um novo Congresso de Umbanda. Neste segundo Congresso, realizado em 1961 sob a presidência do Sr. Henrique Landi Junior, novamente debateu-se a codificação da religião e aprovou-se o Hino da Umbanda, de autoria de J. M. Alves.
Ainda haveria um 3º Congresso, efetivamente realizado em 1973.
Templo de Oxossi (RJ) - 1970
Benjamin
Figueiredo ainda incentivou a criação do Colegiado Espiritualista do
Cruzeiro do Sul, do Círculo de Escritores e Jornalistas de Umbanda, e
seria o principal fundador da Escola Superior Iniciática de Umbanda do
Brasil, da qual foi Conselheiro Nato.
Também nos anos 50/60, muitos autores apresentam obras literárias sobre a Umbanda. Além de Benjamin Figueiredo (Okê Caboclo – 1962) e Tancredo da Silva Pinto, também há livros lançados por Aluízio Fontenele, Byron Torres, Decelso, Emanuel Zespo Jota Alves de Oliveira, João Varela, Lourenço Braga, Oliveira Magno, Samuel Ponze, Silvio Pereira Maciel, dentre outros.
Em 1956 surge um novo personagem que merece destaque: é W.W. da Matta e Silva (1917-1988, foto) com o seu livro "Umbanda de Todos Nós". Sua pesquisa apresenta a religião como ciência e filosofia, em uma linha próxima ao que já apresentara o Primado de Umbanda e Oliveira Magno em seu livro "A Umbanda Esotérica e Iniciática” (1950).
Com grande repercussão no meio umbandista, o livro também é visto como mais uma tentativa de codificação da religião. Matta e Silva ainda lançaria mais oito livros, apresentando sua forma particular de se praticar Umbanda, que viria a ser conhecida como “Umbanda Esotérica”, criando assim mais uma segmentação dentro da religião.
Sempre lutando contra o uso comercial da Umbanda, contra as práticas que alimentam o “baixo espiritismo” e, principalmente, contra a ignorância do corpo mediúnico, Matta e Silva (Mestre Yapaca ni) iniciou em seu terreiro centenas de médiuns na sua corrente astral do “Aumbhandan”, e preparou muitos outros para liderarem agrupamentos religiosos que hoje se distribuem por todo território nacional.
Talvez o mais famosos deles, tido como seu sucessor, seja o Sr. Francisco Rivas Neto (Mestre Arhapiagha), Presidente da Ordem Iniciática do Cruzeiro Divino (O.I.C.D.) e Reitor Geral da Faculdade de Teologia Umbandista (FTU).
O antagonismo dessas principais correntes gera debates que afetam os umbandistas até os dias de hoje. E tal qual naqueles tempos, hoje ainda observa-se que cada grupo ou organização implanta sua própria “codificação”, tentando influenciar o movimento umbandista com sua visão e seus ideais, através da mídia escrita, TV ou Internet.
Mas vale ressaltar que não há verdade absoluta, Centro ou Tenda melhor ou pior, mais “evoluída” do que qualquer outra. Será sempre seguindo princípios básicos de amor e, principalmente, respeito ao próximo, que conseguirá o umbandista ver que, abaixo das pequenas diferenças de culto exterior, somos todos IRMÃOS DE FÉ.
O LEGADO DE BENJAMIN
A Umbanda, quase 100 anos após a famosa apresentação pública de Caboclo das Sete Encruzilhadas, ainda é uma jovem religião em busca de sua afirmação. E merecem o nosso respeito e admiração todos os incansáveis guerreiros que abriram as primeiras trilhas, que seguiram em caminhos nunca antes percorridos e que criaram as bases para que, um século depois, pudessem os umbandistas ter orgulho dos nossos terreiros e de nossos Guias. Essa foi a grande luta de Benjamin Gonçalves Figueiredo.
“A Umbanda é coisa séria para gente séria". Assim, Caboclo Mirim anunciava que era
Benjamin Figueiredo soube estar à altura de uma obra maior, orientada pela legítima cúpula espiritual do movimento umbandista. Sabia que, em seu tempo, seria conhecido como um radical, pela intransigência que precisaria defender uma Umbanda livre dos grilhões de feiticeiros e exploradores da fé, das supertições que poluíam as mentes mais imaturas de alguns fiéis, e principalmente da marginalidade que a sociedade relegava nossa religião.
Realmente não foi um grande escritor, mas seu exemplo seria seu maior diferencial. Como médium dedicado de Caboclo Mirim e Pai Roberto, consolidou a Tenda Mirim e o Primado de Umbanda como verdadeiras Escolas Iniciáticas, provando que a Umbanda tinha vida própria fora da cultura afro-brasileira.
Alguns o acusaram de “embranquecer” a Umbanda, mas Benjamin nunca aceitou o ser humano, e suas manifestações sócio-culturais, como algo estático. Acreditava que tudo evolui, cresce e se desenvolve. É a “Escola da Vida” trazida por Caboclo Mirim! Claro que respeitava a cultura negra que tanto enriquece nossa religião, mas achava dispensável ao culto alguns dos rituais africanos mais r� �sticos. Para ele, Umbanda nunca seria lugar para matanças de animais, “fundangas”, raspagens de cabeça, camarinhas, “recolhimentos” ou “obrigações” aos Orixás.
O “radicalismo” de Zélio de Moraes, Benjamin Figueiredo e seus companheiros, permitiu que não predominasse na Umbanda apenas a matriz africana e a avassaladora cultura Yorubá, da mesma forma que se observa sua forte presença nos Cultos de Nação. Talvez, sem sua contribuição, a Umbanda hoje seria apenas uma forma “light” do Candomblé. Mas, respeitando-se como religiões irmãs, cada qual vem aprendendo a consolidar sua própria visão do universo, com seus próprios fundamentos, rituais e, principalmente, sacerdotes.
Assim, a Umbanda pôde consolidar-se como religião universalista, com espaço para diversas influências que enriqueceram e fortaleceram os umbandistas, permitindo que observemos em nossos terreiros a presença da matriz católica, da m atriz espírita, da matriz orientalista, etc. chegado um novo tempo aos verdadeiros umbandistas, era hora de abandonar os excessos litúrgicos, e de cada um despertar para sua jornada de crescimento íntimo, sob a luz dos Guias de Aruanda.
Também nos anos 50/60, muitos autores apresentam obras literárias sobre a Umbanda. Além de Benjamin Figueiredo (Okê Caboclo – 1962) e Tancredo da Silva Pinto, também há livros lançados por Aluízio Fontenele, Byron Torres, Decelso, Emanuel Zespo Jota Alves de Oliveira, João Varela, Lourenço Braga, Oliveira Magno, Samuel Ponze, Silvio Pereira Maciel, dentre outros.
Em 1956 surge um novo personagem que merece destaque: é W.W. da Matta e Silva (1917-1988, foto) com o seu livro "Umbanda de Todos Nós". Sua pesquisa apresenta a religião como ciência e filosofia, em uma linha próxima ao que já apresentara o Primado de Umbanda e Oliveira Magno em seu livro "A Umbanda Esotérica e Iniciática” (1950).
Com grande repercussão no meio umbandista, o livro também é visto como mais uma tentativa de codificação da religião. Matta e Silva ainda lançaria mais oito livros, apresentando sua forma particular de se praticar Umbanda, que viria a ser conhecida como “Umbanda Esotérica”, criando assim mais uma segmentação dentro da religião.
Sempre lutando contra o uso comercial da Umbanda, contra as práticas que alimentam o “baixo espiritismo” e, principalmente, contra a ignorância do corpo mediúnico, Matta e Silva (Mestre Yapaca ni) iniciou em seu terreiro centenas de médiuns na sua corrente astral do “Aumbhandan”, e preparou muitos outros para liderarem agrupamentos religiosos que hoje se distribuem por todo território nacional.
Talvez o mais famosos deles, tido como seu sucessor, seja o Sr. Francisco Rivas Neto (Mestre Arhapiagha), Presidente da Ordem Iniciática do Cruzeiro Divino (O.I.C.D.) e Reitor Geral da Faculdade de Teologia Umbandista (FTU).
O antagonismo dessas principais correntes gera debates que afetam os umbandistas até os dias de hoje. E tal qual naqueles tempos, hoje ainda observa-se que cada grupo ou organização implanta sua própria “codificação”, tentando influenciar o movimento umbandista com sua visão e seus ideais, através da mídia escrita, TV ou Internet.
Mas vale ressaltar que não há verdade absoluta, Centro ou Tenda melhor ou pior, mais “evoluída” do que qualquer outra. Será sempre seguindo princípios básicos de amor e, principalmente, respeito ao próximo, que conseguirá o umbandista ver que, abaixo das pequenas diferenças de culto exterior, somos todos IRMÃOS DE FÉ.
O LEGADO DE BENJAMIN
A Umbanda, quase 100 anos após a famosa apresentação pública de Caboclo das Sete Encruzilhadas, ainda é uma jovem religião em busca de sua afirmação. E merecem o nosso respeito e admiração todos os incansáveis guerreiros que abriram as primeiras trilhas, que seguiram em caminhos nunca antes percorridos e que criaram as bases para que, um século depois, pudessem os umbandistas ter orgulho dos nossos terreiros e de nossos Guias. Essa foi a grande luta de Benjamin Gonçalves Figueiredo.
“A Umbanda é coisa séria para gente séria". Assim, Caboclo Mirim anunciava que era
Benjamin Figueiredo soube estar à altura de uma obra maior, orientada pela legítima cúpula espiritual do movimento umbandista. Sabia que, em seu tempo, seria conhecido como um radical, pela intransigência que precisaria defender uma Umbanda livre dos grilhões de feiticeiros e exploradores da fé, das supertições que poluíam as mentes mais imaturas de alguns fiéis, e principalmente da marginalidade que a sociedade relegava nossa religião.
Realmente não foi um grande escritor, mas seu exemplo seria seu maior diferencial. Como médium dedicado de Caboclo Mirim e Pai Roberto, consolidou a Tenda Mirim e o Primado de Umbanda como verdadeiras Escolas Iniciáticas, provando que a Umbanda tinha vida própria fora da cultura afro-brasileira.
Alguns o acusaram de “embranquecer” a Umbanda, mas Benjamin nunca aceitou o ser humano, e suas manifestações sócio-culturais, como algo estático. Acreditava que tudo evolui, cresce e se desenvolve. É a “Escola da Vida” trazida por Caboclo Mirim! Claro que respeitava a cultura negra que tanto enriquece nossa religião, mas achava dispensável ao culto alguns dos rituais africanos mais r� �sticos. Para ele, Umbanda nunca seria lugar para matanças de animais, “fundangas”, raspagens de cabeça, camarinhas, “recolhimentos” ou “obrigações” aos Orixás.
O “radicalismo” de Zélio de Moraes, Benjamin Figueiredo e seus companheiros, permitiu que não predominasse na Umbanda apenas a matriz africana e a avassaladora cultura Yorubá, da mesma forma que se observa sua forte presença nos Cultos de Nação. Talvez, sem sua contribuição, a Umbanda hoje seria apenas uma forma “light” do Candomblé. Mas, respeitando-se como religiões irmãs, cada qual vem aprendendo a consolidar sua própria visão do universo, com seus próprios fundamentos, rituais e, principalmente, sacerdotes.
Assim, a Umbanda pôde consolidar-se como religião universalista, com espaço para diversas influências que enriqueceram e fortaleceram os umbandistas, permitindo que observemos em nossos terreiros a presença da matriz católica, da m atriz espírita, da matriz orientalista, etc. chegado um novo tempo aos verdadeiros umbandistas, era hora de abandonar os excessos litúrgicos, e de cada um despertar para sua jornada de crescimento íntimo, sob a luz dos Guias de Aruanda.
A conclusão que
chegamos é que será na busca do equilíbrio, do “Caminho do Meio”, que a
Umbanda crescerá. Os gregos antigos já nos ensinavam que a
temperança, a prudência e a modéstia, aliadas à moderação e ao bom
senso, compõe as condições indispensáveis a se alcançar um estado de
espírito são e calmo (Sophrosyne).
Mas trilhar pelo meio não significa ignorar a energia dos extremos, com sua força e sua vitalidade. O melhor caminho será encontrado na polarização correta dessas forças, não na sua anulação. No caminho do meio todos os extremos se encontram, e nele todos os extremos se apóiam e se fortalecem.
Mas trilhar pelo meio não significa ignorar a energia dos extremos, com sua força e sua vitalidade. O melhor caminho será encontrado na polarização correta dessas forças, não na sua anulação. No caminho do meio todos os extremos se encontram, e nele todos os extremos se apóiam e se fortalecem.
Que os filhos da
nossa querida Umbanda reconheçam o conjunto das forças presentes em
sua religião, e possam encontrar em seu equilíbrio a verdadeira Luz de
Aruanda!!!
SERGIO NAVARRO TEIXEIRAFraternidade Umbandista LUZ DE ARUANDA
Barra Mansa/RJ
Março de 2008
Bibliografia:
· BARRETO, Paulo (“João do Rio”). As Religiões no Rio - Editora Nova Aguilar (1976)
· BROWN, Diana. Uma história da Umbanda no Rio (Cadernos do ISER. Umbanda & Política. Volume 18) - Editora Marco Zero.
· Federação Espírita de Umbanda. Primeiro Congresso do Espiritismo de Umbanda. Trabalhos apresentados ao 1º Congresso Brasileiro de Espiritismo de Umbanda, reunidos no Rio de Janeiro, de 19 a 26 de Outubro de 1941. Jornal do Commércio - RJ (1942)
· FIGUEIREDO, Benjamin Gonçalves. Okê Caboclo - Editora ECO (1962)
· OLIVEIRA, Jota Alves de. Magias da Umbanda – Editora ECO (1970)
· DECELSO. Umbanda de Caboclos – Editora ECO (1972)
· Primado de Umbanda - Ordenações do Primado de Umbanda
· NEGRÃO, Lísias Nogueira. Entre a Cruz e a Encruzilhada – Edusp (1996)
· TRINDADE, Diamantino Fernandes. Umbanda e sua História - Ícone Editora
·JENSEN, Tina Gudrun. Discursos sobre as religiões afro-brasileiras - Da desafricanização para a reafricanização - (traduzido por Maria Filomena Mecabô)
· PRANDI, Reginaldo. O Brasil com Axé: Candomblé e Umbanda no Mercado Religioso (2004)
· Revista Espiritual de Umbanda nº 06 – Editora Escala (2004)
· OLIVEIRA, José Henrique M. As estratégias de legitimação da Umbanda durante o Estado Novo: institucionalização e evolucionismo. (23/05/2006.)
· SÁ JUNIOR, Mario Teixeira de. A invenção da alva nação umbandista (Tese de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduaç� �o em História pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - Campus Dourados (2004)
· ISAIA, Artur César. O Elogio ao Progresso na obra dos Intelectuais de Umbanda – artigo da UFSC
SERGIO NAVARRO TEIXEIRAFraternidade Umbandista LUZ DE ARUANDA
Barra Mansa/RJ
Março de 2008
Bibliografia:
· BARRETO, Paulo (“João do Rio”). As Religiões no Rio - Editora Nova Aguilar (1976)
· BROWN, Diana. Uma história da Umbanda no Rio (Cadernos do ISER. Umbanda & Política. Volume 18) - Editora Marco Zero.
· Federação Espírita de Umbanda. Primeiro Congresso do Espiritismo de Umbanda. Trabalhos apresentados ao 1º Congresso Brasileiro de Espiritismo de Umbanda, reunidos no Rio de Janeiro, de 19 a 26 de Outubro de 1941. Jornal do Commércio - RJ (1942)
· FIGUEIREDO, Benjamin Gonçalves. Okê Caboclo - Editora ECO (1962)
· OLIVEIRA, Jota Alves de. Magias da Umbanda – Editora ECO (1970)
· DECELSO. Umbanda de Caboclos – Editora ECO (1972)
· Primado de Umbanda - Ordenações do Primado de Umbanda
· NEGRÃO, Lísias Nogueira. Entre a Cruz e a Encruzilhada – Edusp (1996)
· TRINDADE, Diamantino Fernandes. Umbanda e sua História - Ícone Editora
·JENSEN, Tina Gudrun. Discursos sobre as religiões afro-brasileiras - Da desafricanização para a reafricanização - (traduzido por Maria Filomena Mecabô)
· PRANDI, Reginaldo. O Brasil com Axé: Candomblé e Umbanda no Mercado Religioso (2004)
· Revista Espiritual de Umbanda nº 06 – Editora Escala (2004)
· OLIVEIRA, José Henrique M. As estratégias de legitimação da Umbanda durante o Estado Novo: institucionalização e evolucionismo. (23/05/2006.)
· SÁ JUNIOR, Mario Teixeira de. A invenção da alva nação umbandista (Tese de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduaç� �o em História pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - Campus Dourados (2004)
· ISAIA, Artur César. O Elogio ao Progresso na obra dos Intelectuais de Umbanda – artigo da UFSC
· Diversos sites da Internet, dentre eles destacamos:
- Tenda Espírita Mirim (http://www.tendaespiritamirim.org.br/)
- Tenda Espírita Fraternidade da Luz (http://www.tefl.com.br/)
- A Umbanda na visão de um eterno aprendiz (http://www.marciobamberg.com.br/umbanda)
- Umbanda – A Proto-Síntese Cósmica (http://www.umbanda.org/)
- Círculo dos Irmãos Espiritualista Fé e Caridade (CIEFEC)
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