sexta-feira, 31 de maio de 2013

Morre uma Escrava, Nasce uma Preta Velha

Morre uma Escrava, Nasce uma Preta Velha

A história que vou passar é triste e vai te fazer chorar. Pai Sandro

A senzala exalava o calor de um local superlotado, o suor de mais um dia brutal de trabalho, e o medo de novas ordens ou atitudes desmedidas.

O breu já se formava lá fora em noite sem lua, que prometia chuva. Nenhuma luz entrava pelas frestas da taipa desgastada pelo tempo e não se viam os animais que penetravam, insetos noturnos. Havia sempre o risco de uma cobra por baixo do tapete improvisado que protegia do chão áspero, feito de folhas de bananeira e palha de folha de cana. Por isso, sempre havia aqueles encarregados de bater todo o espaço com varas de bambu, para espantá-las. Um ou outro pequeno candeeiro, pois sinhozinho não gostava de gastar óleo de baleia com negros.

A senzala quadrangular era dividida em quatro setores: os homens de um lado, mulheres de outro, as mulheres com filhos recém-nascidos num terceiro canto, filhos estes de pele mais clara, e alguns até de olhos verdes. Os pretos e as pretas não podiam coabitar nem ter filhos, exceto se o “procriador” se destacasse muito pela força e inteligência. Não havia querer, não havia gostar.

No quarto último canto, os velhos, escravos e escravas juntos, já que não se reproduziam mais, haviam conseguido sobreviver à lida, aos maus tratos e à tristeza de ver seu povo sofrendo tanto.Traziam ainda a mente lúcida, sabiam receitas para curar todo o tipo de moléstias, sabiam rezar contra os males do corpo, e aguardavam a madrugada para entoarem seus cantigos nostálgicos, espantarem o banzo, e ensinarem aos outros suas lendas, suas origens e tradições. Alguns incorporavam velhos espíritos das florestas, dos cursos d’água, do fundo da terra, e rendiam seu culto de Fé a Olorum, Orixalá, Oxumaré, Obaluaiê, Iroko, Nanã Buruku e a Abikú, este último, pelo grande número de crianças que morriam. Colocavam em um pequeno pote de barro, o que tinham conseguido trazer escondido do parco almoço, um pouco de fubá, inhame, umas favas de feijão e enfeitavam com flores, completando com Amor e Devoção a singela entrega.

Também rendiam respeito ao Exu Kimbandeiro, pois na senzala só haviam negros bantos. Os caçadores de escravos haviam se espalhado de tal maneira que depois deles não houve mais os Tatás africanos, destruindo na África toda uma cultura milenar. Ou quem sabe era mesmo o momento dela migrar através do oceano para este Brasil que ainda não percebia o tamanho do horror que abrigava em seu generoso chão.

Havia ali naquele pobre albergue desguarnecido, uma velha escrava pequena, de passos miúdos, mãos mágicas que consertavam ossos quebrados, feridas abertas, corações partidos… Não tinha tido tempo de completar sua iniciação de Sacerdotisa em sua Terra, o Congo, quando foi aprisionada e separada dos seus. A solidão, a tristeza, a saudade, a perda das esperanças de ver suas matas novamente, não lhe haviam dobrado a cerviz. Do mesmo modo que era meiga, era firme, e se dedicava ao mundo espiritual incansavelmente, de alguma maneira conseguindo amenizar um pouco o sofrimento daqueles que estavam ali.
Ensinava que seu Povo era de caçadores, mas também guerreiros, e que mesmo desarmados e vencidos, cada negro ali tinha de manter a cabeça em pé, o pensamento focado na superação das provas físicas e a necessidade da solidariedade para obterem um pouco de Paz no seu dia a dia.

Ela já não tinha força para trabalhar no plantio da cana ou na colheita do milho, mas Sinhazinha mais de uma vez havia lhe chamado para curar seus filhos. Assim, ela passava seus dias curando, cantando, sorrindo com seus olhos enevoados pela idade, enquanto tratava das feridas dos que eram castigados.

Mas naquela noite sem Lua, com a chuva já encharcando o chão, deixando o sono de todos ainda mais desconfortável, subitamente o capataz da fazenda invade o local, destrancando e abrindo a porta com violência gritanto: “Um negro desgraçado fugiu, Uma fuga, uma vida.”! E agarrou o adolescente Jerônimo, que embora jovem era muito alto e forte, além de mostrar grande personalidade. Jerônimo iria pagar pela fuga. Com força descomunal para seu tamanho, na hora do derradeiro golpe do facão, Maria Quimbandeira desviou a arma certeira, salvando o menino, mas ela própria caiu, transpassada pela lâmina, e em pouco tempo sucumbiu, sem um gemido.

Acordou junto a sua floresta africana, em meio a uma linda dança de encantados. O grande Babá-Egun a ela se dirigiu lhe dando o comando de duzentos guerreiros e disse:
“ Babá Maria, sua missão na Terra findou, mas se inicia aqui uma muito maior, junto aos homens, embora nenhum deles poderá vê-la. Irás ainda por muito tempo vagar o Planeta, com a finalidade de proteger os homens do mal, e junto com outros milhares que estão fazendo o mesmo trabalho, até o dia em que poderás sentar à beira deste riacho e descansar. Agora não, que é tempo de muitas modificações e auxílio aos homens encarnados. Eis que sai de cena a velha Maria e surge a Vovó Maria da Pemba, sempre protegendo, amparando, fortalecendo e abençoando seus protegidos”.
 
 
Pai João

Pai João

O ponto

Caminheiro quem passar naquela estrada
vê uma cruz abandonada como quem vai pro sertão
há muitos anos neste chão foi sepultado
um preto velho i herado por nome de pai João.

Pai João da fazenda dos coqueiros foi destemido carreiro querido do seu patrão e a boiada o gibão e o Brioso
nos morro mais perigoso arrastava o carretão.

certa vez pai João não esperava, que a morte lhe rondava, lá na curva do areião e numa queda embaixo do carro caiu
do mundo se despediu, preto veio pai João.

Caminheiro aquela cruz no caminho já contei tudo certinho a história de pai João, resta saudade daquele tempo que foi
o velho carro de boi no fundo do mangueirão.


A História

QUANDO EM VIDA FOI UM GRANDE REI DE UMA TRIBO, NA CIDADE DE CANARINHO/ ÁFRICA.
NO PERÍODO DA ESCRAVATURA, FOI APRISIONADO E ESCRAVIZADO PELOS PORTUGUESES, E LEVADO AO BRASIL ONDE DESEMBARCOU NA REGIÕES LITORANEAS DA BAHIA.
FICOU NA CONDIÇÃO DE ESCRAVO NA FAZENDA DOS COQUEIROS,  TENDO SOFRIDO INCONTÁVEIS HUMILHAÇÕES, CHICOTEADO E EXPLORADO COMO UM ANIMAL.
E COM ATITUDES NOBRES DE UM REI, ESTE NEGRO PEDIA A OXALÁ, PERDÃO DE DEUS PARA O SEU SENHORES, POR TAMANHA MALDADE E FALTA DE AMOR NO CORAÇÃO.
COM 94 ANOS, OCORREU-LHE UM ACIDENTE COM UM CARRO DE BOI, VINDO A PARTIR DESTA VIDA MATERIAL.
COM FÉ, AMOR E HUMILDADE ESTE NEGRO FOI SALVO POR ZAMBI MAIOR (DEUS)! CONSAGRANDO-LHE UM GRANDE GUARDIÃO DAS LEIS DIVINAS, FAZERIA PARTE DA 1º LINHA NA UMBANDA QUE É A DOS PRETOS VELHOS.
O GRANDE CRIADOR LHE DEU VÁRIAS MISSÕES E UMA DELAS ERA QUE:.
PAI JOÃO TERIA QUE RESGATAR TODOS OS SEUS FILHOS QUE ANTES ERAM DO SEU REINO NA ÁFRICA E TAMBÉM AQUELES QUE O ACOMPANHARAM EM SUA CAMINHADA NO BRASIL, QUANDO ESCRAVO.
PAI JOÃO ACEITOU COM HUMILDADE, E DESDE ENTÃO VEM ACOLHENDO SEUS FILHOS QUE ESTÃO ESPALHADOS POR ESTE MUNDO, REENCARNADOS E A PROCURA DO SEU REI CAURÊ (VERDADEIRO NOME DE PAI JOÃO).
 
MUITO OBRIGADO MEU VELHO! POR SEMPRE NOS ENSINAR A TER DEUS NO CORAÇÃO, AJUDAR AO PRÓXIMO, PRATICAR A VERDADEIRA CARIDADE, SEM VER A QUEM. ESTAMOS AQUI PARA SERMOS RESGATADOS E SEGUIR SEUs CONSELHOS, QUE NOS LEVAM CADA VEZ MAIS PERTO DE NOSSO PAI MISERICORDIOSO.



História Terrena de Um Preto Velho


Noite na senzala. Os escravos amontoam-se pelo chão arranjando-se como podem. Engrácia entra correndo e vai direto até onde Amundê está e o sacode: - A sinhazinha está chamando, é urgente! - O escravo é conhecido pelas mezinhas e rezas que aplica a todos seus irmãos e o motivo do chamado é justamente esse. O filho de Sinhá Tereza está muito doente.

É apenas uma criança de cinco anos e arde em febre há dois dias sem que os médicos chamados na corte consigam faze-la baixar. Sem ter mais a quem recorrer, no desespero próprio das mães, resolveu seguir o conselho de sua escrava de dentro e chamar o africano.
 
Aproveitando a ida de seu marido à cidade, ele jamais concordaria, manda que venha. Sabendo do que se tratava o homem foi preparado. Levou algumas ervas e um grande vidro com uma garrafada feita por ele e cujos ingredientes não revelava nem sob tortura.
 
Em poucos minutos adentram o quarto do menino e Amundê percebe que precisa agir com presteza. Manda que Engrácia busque água quente para jogar sobe as ervas que trouxe enquanto serve uma boa colherada do remédio ao garoto. Dentro de uma bacia coloca a água pedida e vai colocando as folhagens uma a uma enquanto reza em seu dialeto.
 
Ordena que desnudem a criança e carinhosamente a coloca dentro da bacia passando-lhe as ervas no pequeno corpo. Nesse instante a porta se abre e surge o Sinhô Aurélio acompanhado do padre da cidade. Tereza grita e corre até o marido desculpando-se. O padre dirige-se a ela com ferocidade: - Como entrega seu filho a um feiticeiro? - dirigindo-se ao marido - Diga adeus ao menino, após passar por essa sessão de bruxaria ele morrerá sem dúvida! Tereza corre até o filho e o cobre com um cobertor enquanto o marido ordena que o escravo seja levado imediatamente ao tronco onde o capataz aplicará o castigo merecido. - Engrácia, acorde todos os negros para que vejam o fim que darei ao assassino de meu filho! Todos reunidos no grande terreiro ouvem a ordem dada ao capataz: - Chibata até a morte!
 
E vocês - aponta todos os escravos - saibam que darei o mesmo fim a todos que ousarem chegar perto de minha família novamente. As chibatadas são dadas sem piedade, Amundê deixa escapar urros de dor entremeados com rezas o que somente aguça a maldade do capataz.

Lágrimas copiosas correm pelas faces de muitos escravos. Após duas horas de intensa agonia o negro entrega sua alma e seu corpo retesa-se no arroubo final, finalmente descansará. O silêncio do momento é cortado por um grito vindo da principal janela da casa grande: - Aurélio, pelo amor de Deus - é Tereza com o filho nos braços - o menino está curado, a febre cedeu e ele está brincando! Assim morreu Amundê conhecido em nossos terreiros como o velho Pai Francisco de Luanda. Sua benção, meu pai! Permita que jamais voltemos a ver algo tão perverso em nossa história.

Nenhum comentário:

Postar um comentário